“Road to nowhere” ou como exterminar os carros na cidade

Foi na abertura do 3º encontro organizado pela publicação “Transportes em Revista”, realizado no Palácio Burnay, em Lisboa…
(banda sonora de Talking Heads)

frases que destaco…

– “Existe em Portugal falta de integração tarifária e sistemas tarifários obscuros e injustos, são necessárias reformas” :: Secretário de Estado dos Transportes
– “Conseguimos que 90 por cento das casas de Londres tenham uma paragem de autocarro” :: ATL, Londres
– “… a frequência das carreiras se tornou tão intensa que já não são precisos horários em 80 por cento dos percursos.” ../.. “com a maior taxa de crescimento desde a II Guerra Mundial” :: Peter Hendy, Londres
– “Vamos acabar com os sistemas híbridos de bilhetagem, acabar com a utilização do dinheiro e integrar num único cartão uma rede de transportes de 13 milhões de pessoas. Contamos ter o país todo integrado em 2007” :: Cees Van Buchem, Holanda

Jornal Público | Local Lisboa :: 2004/06/03
http://jornal.publico.pt/2004/06/03/LocalLisboa/LL06.html

Quase 80 por Cento dos Londrinos Utilizam Os Autocarros
Por NUNO FERREIRA
Quinta-feira, 03 de Junho de 2004

“Hoje, mais do que nunca, coloca-se a questão da mobilidade das pessoas. Há que estudar que condições de mobilidade podemos dar às pessoas no espaço urbano, como minimizar os efeitos negativos no ambiente da mobilidade e quanto isso vai custar”, disse ontem o Secretário de Estado dos Transportes, Francisco de Seabra Ferreira, na abertura do 3º encontro organizado pela publicação “Transportes em Revista”, realizado no Palácio Burnay, em Lisboa.

Foi ao som de “Road to nowhere”, dos Talking Heads e perante um anfiteatro repleto de quadros, que o encontro começou, desta vez subordinado ao tema “Inovação e competência nos transportes”. Ao longo do dia, entre as 9h30 e as 19h00, mais de 40 oradores e moderadores debateram, em diversas salas das instalações da Universidade Técnica de Lisboa, temáticas específicas tão diferentes quanto a “mobilidade urbana”, a “alta velocidade em Portugal”, o transporte ferroviário, o transporte marítimo, o transporte rodoviário e o marketing nos transportes.

O tema da mobilidade urbana dominou a manhã de ontem no auditório principal, com intervenções centradas, entre outros enfoques, no financiamento dos transportes públicos nas áreas metropolitanas e no sistema tarifário utilizado até aqui nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. “Existe em Portugal falta de integração tarifária e sistemas tarifários obscuros e injustos, são necessárias reformas”, disse o Secretário de Estado dos Transportes.

Mais tarde, ainda no auditório principal, responsáveis pela implementação de novos sistemas de transportes em Inglaterra e na Holanda deram conta das suas experiências no terreno. Peter Hendy, que colabora desde Janeiro de 2001 na Autoridade de Transportes de Londres (ATL), apresentou os “resultados positivos das novas políticas postas em prática pelo actual “mayor” londrino, Ken Livingstone.

Peter Hendy explicou que, em Londres, a nível dos transportes, é o “mayor” quem decide, integrando na sua estratégia os caminhos de ferros londrinos, o metro e os meios de transporte à superfície. Peter Hendy, que na ATL é responsável pela área dos autocarros, táxis e viaturas particulares, deu conta das “melhorias” sentidas nos últimos anos nessa área na capital britânica.

“A utilização dos autocarros, em Londres, está neste momento, à frente da do metro. Transportamos por dia, nos autocarros londrinos, cerca de 7.7 milhões de pessoas. Conseguimos que 90 por cento das casas de Londres tenham uma paragem de autocarro a 400 metros”, afirmou o mesmo dirigente da ATL.

O responsável dos transportes londrino disse também que a frequência das carreiras se tornou tão intensa que já não são precisos horários em 80 por cento dos percursos. “Estamos nesta área de transporte à superfície com o maior número de passageiros desde 1968 e com a maior taxa de crescimento desde a II Guerra Mundial”, afirmou ainda Peter Hendy.

Não se cansando de elogiar o trabalho de Ken Livingstone à frente do município local, aquele técnico disse ainda que, actualmente, “apenas 21 por cento dos londrinos não usam autocarros” e que, no fundo, há uma “revolução a tomar conta do tráfego londrino de superfície”: “Londres e os londrinos estão a fazer chegar as suas vozes ao governo para fazer com que a revolução continue”.

Da Holanda, veio ainda outra experiência, a de Cees Van Buchem, envolvido desde 2001 no projecto de integração, a nível nacional, do sistema de bilhetagem. “Vamos acabar com os sistemas híbridos de bilhetagem, acabar com a utilização do dinheiro e integrar num único cartão uma rede de transportes de 13 milhões de pessoas. Contamos ter o país todo integrado em 2007”, explicou Cees. O sistema vai começar por ser implementado em Roterdão em 2005 e será gradualmente expandido até atingir toda a rede de transportes da Holanda.

O 3º Encontro “Transportes Em Revista” encerrou na presença do Ministro das Obras Públicas Transportes e Habitação, Carmona Rodrigues.